Capítulo 7 Deshonra

Ficamos conversando por tanto tempo que acabei perdendo a noção do horário. Vendo as empregadas correrem de um lado para o outro, percebo que atrasei a noiva devido ao buque estar comigo.

- Preciso ir agora. Levarei o buquê para minha irmã. Tchau, Criptus! - me despedi.

- Só deixo você ir se aceitar se encontrar comigo hoje à tarde ali no monte. - impôs em um tom de brincadeira, mas apontou para o local desejado.

- Vou pensar no seu caso. - falo sem dar certeza que iria.

- Pensa com carinho, estarei lá te esperando. - ele disse encerrando a conversa e foi embora.

Fiquei pensativa, não sabia se iria ou não, enquanto saía da cozinha.

"Tenho muito tempo para pensar nisso, preciso correr agora!".

Entrei no corredor que levava em direção aos quartos do castelo. Seguindo em frente ao quarto das górgonas paro quando ouço sons de gemidos, decido seguir os sons que vinham de um cômodo daquele ambiente, abrir a porta vagarosamente e a empurrei de leve apenas para me dá uma pequena abertura. Analisando o quarto cheio de decorações de tons azuis e moveis simples, talvez fosse de hóspedes. Ouço novamente o gemido feminino, e olhando em sua direção me deparo com algo inimaginável.

Era minha irmã, Euríale. Ela estava fazendo sexo com um estranho, estava de joelhos na cama ficando de costas para ele enquanto a penetrava por trás. Seu vestido estava levantado acima do seu quadril, a nudez de minha irmã me constrangia. Eles não haviam me visto ali de tão entretidos que estavam no ato, observei atentamente cada movimento sendo seguido de um gemido rouco de suas bocas.

Vendo aquela cena, uma quentura se acendeu em mim. Fiquei com um pouco de inveja, pois eu nunca transei com ninguém, e sempre quis saber se era tão bom assim como as minhas amigas sempre diziam. Mas não queria fazer com qualquer um como elas e, sim, com a pessoa certa, quero que seja especial. Euríale se movimentava chocando-se contra a pélvis do estranho, me deixando boquiaberta com aquela cena indecente em pleno noivado da Esteno. Fecho a porta com cuidado para que eles não percebessem que foram flagrados e me recomponho para que os convidados não notem o meu espanto. Plena sigo para o quarto das meninas ainda incrédula com a cena que presenciei.

- Até que enfim você chegou! Onde você estava? - Esteno gritava, estava aborrecida comigo.

- E... eu estava ajudando os empregados e perdi a hora. - inventei uma desculpa esfarrapada - Me desculpa?

- Está desculpada, mas não me deixe esperando de novo, você sabe que odeio esperar. - enfatizou.

- Desculpa? - pedi novamente, estando totalmente desligada das reclamações da Esteno, pensando apenas numa coisa: a cena que observei da Euriale.

- Você viu a Euríale? Ela saiu para te procurar e até agora não voltou. Não quero que nada dê errado nesse meu noivado com este estranho. - intimou.

- Não, eu não vi ela. - menti ficando nervosa.

Não sabia como contar o que vi, ainda mais uma coisa que aconteceu em pleno noivado, então decido ficar quieta.

- Avise a todos que já vou descer. - pediu.

Respirando fundo, desço correndo para a sala de convidados para avisar sobre a entrada da futura noiva, no entanto, um burburinho chamar a minha atenção quando vejo o homem que estava transando com a Euríale sendo parabenizado pelo evento, fico pasma e sem entender nada.

"Ele está sendo parabenizado pelo quê? Por desonrar uma górgona? Homens são tão patéticos mesmo."

Meu pai mitológico, Fórcis, estavarecebendo os convidados que chegavam, me chamou para perto.

- Filha, você está linda. Quero te apresentar o noivo da sua irmã Esteno, esse é Dário de Delfos, meu futuro genro. - Ele me apresentou exatamente o homem que estava com a Euríale. - me deixando incrédula com o que eu acabara de ouvir do meu pai Fórcis.

"Mas como assim? Ele será o noivo da Esteno, mas ele estava transando com a Euríale? Meu Deus, que horror, é um escândalo muito grande para guardar"

- Dário, essa é a minha filha caçula, Adazar. - Meu pai mitológico disse, me apresentando ao indivíduo.

- Prazer em conhecê-la! - Ele me cumprimentou beijando o dorso da minha mão na maior cara de pau, como se nada tivesse acontecido. Como se ele não tivesse traído a minha irmã com a minha outra irmã. Que saco, esqueci de algo importante... ele não sabe o que vi.

- Prazer! - respondi com uma pitada de rispidez e uma cara rançosa, até queria ser simpática, mas a minha expressão de desagrado não conseguia esconder.

Parecendo perceber que não fui com a cara dele, ficou meio pensativo, estranhando o meu comportamento. O homem seria um tipo padrão, se estivéssemos no meu mundo. Bonito, boa pinta, engomadinho e ainda acrescentaria mau-caráter.

Procurei por Euríale naquela multidão, mas não consegui avistá-la, resolvi deixar isso de lado. Havia um noivado para acontecer em poucos minutos e uma futura noiva esperava apenas será nunciada para poder enfim entrar.

- Senhoras e senhores, com vocês a minha irmã, Esteno! - Anunciei para os convidados indo recepcionar a entrada da noiva, claro, não antes de limpar a minha mão babada pelo Bel-Ami.

Esteno desceu as escadas, maravilhosa e estonteante. Ela estava deslumbrante com aquele vestido branco longo e prateado. Nessa hora Euríale e Medusa apareceram, mas não juntas. As duas estavam com a cara péssima, provavelmente detestando aquele noivado assim como eu, mas cada uma com o seu motivo. Esteno foi recebida pelo seu canalha de noivo, que pegou sua mão e a conduziu até o salão de festa.

- Preciso falar com você em particular. - abordei Medusa, quando ela seguia para o salão de festa.

- O que houve? - perguntou preocupada.

- Você promete guardar segredo? - pergunto querendo desabafar.

- Claro que sim, pode confiar. - ela garantiu.

Não sei se Medusa era de confiança, ainda mais após ver algumas atitudes dela, mas era a mais próxima de mim entre as górgonas, e eu não podia guardar essa bomba só para mim, então...

- Flagrei a nossa irmã Euríale transando com o noivo da Esteno. - contei de uma só vez.

- O que é isso? - perguntou confusa.

- Sexo, fazendo sexo, eu quis dizer.- corrigi.

Às vezes esqueço que esse povo não conhece a linguagem moderna dos dias atuais.

- O quê? - berrou.

- Fala baixo! - sussurrei fazendo gestos com a mão para que diminuísse o tom de voz.

- Mas como assim? Eles têm um caso? Você tem certeza? Você não bateu a cabeça em algum lugar não? - Ela não conseguia acreditar.

- Não! Vi com meus olhos. Fui à cozinha pegar o buquê da Esteno com a empregada, quando voltei, avistei os dois quase pelados transando num dos quartos.

- Mas que maravilha. Imagina quando a Esteno souber que foi traída antes mesmo do noivado ser anunciado. - zombou.

- Você prometeu que não contaria para ninguém, muito menos para Esteno. - enfatizei.

- Calma, só estou imaginando aqui no meu faz de conta. Fica tranquila, minha boca é uma tumba. - disse, derramando-se em sarcasmo.

- Medusa, por favor, não fala nada. Vamos respeitar o noivado da Esteno. O papai está tão feliz que vai casar uma das suas filhas, não vai estragar isso, por favor! - supliquei de mãos juntas.

- Fica tranquila, não direi nada. - Me garantindo mais uma vez.

A hora do banquete dos noivos se aproximava, é uma comemoração onde as famílias se conheceriam melhor, já que o noivado aconteceu de uma hora para outra, sem que os noivos se quer se conhecessem.

- Estou muito feliz em noivar a minha filha com o seu filho, governador! - disse o meu pai mitológico, Fórcis.

- É de bom grado, pois quero unir as nossas famílias, seremos uma grande nação. - afirmou o governador, pai do canalha do Dário.

Enquanto as famílias dos noivos trocavam resenhas e elogios, Euríale e Dário trocavam olhares maliciosos. Notei que eles se olhavam demais, a Euríale já estava preste a se rebelar, eles se seguravam muito, não entendia o porquê eles não assumiram o romance antes de deixar isso tudo acontecer, mas como ali era uma época totalmente diferente da minha guardei meus questionamentos apenas para mim.

- Vamos fazer um brinde aos noivos! - disse meu pai, levantando a taça de vinho.

- Aos noivos! - disseram todos no grande salão.

Notei que ele e mamãe estavam na forma humana sem as caldas. Eram tantos acontecimentos que eu nem percebi esse detalhe. Esse lugar é fantástico mesmo.

- Estou muito feliz que vou casar comum nobre, enquanto outras apenas vivem uma aventura com um pé rapado. - alfinetou a Medusa.

- Melhor se aventurar com um pé rapado do que ser traída no dia do próprio noivado, eita lelê! - explanou, levantado a taça de vinho, criando um clima bizarro no ar.

Todos ficaram boquiabertos, a princípio sem entender nada. Dário cuspiu o vinho que bebeu após ter sido exposto enquanto Euríale abaixava a cabeça envergonhada. Fiquei com minha carade tacho, sem acreditar que a Medusa traiu a minha confiança.

- O que você disse sua louca? Você enlouqueceu? - Esteno se exaltou rindo num claro sinal de nervosismo, se recusando a acreditar no que ouvira, enquanto Medusa continua debochando dando algumas goladas no vinho. - Você está mentindo!

- Eu não estou mentindo! O seu noivo estava algumas horas atrás acasalando com Euríale, nossa irmã! - Medusa expôs tudo enfurecida.

- É mentira! - Esteno insistiu em não acreditar.

- Deve ser deprimente saber que o noivo que o papai comprou para casar com você, na verdade, queria a sua irmã! - Medusa zombou, perdendo totalmente o respeito e a noção do ridículo.

- Vou te matar, sua desgraçada! - Esteno partiu para cima de Medusa tentando agredi-la.

- Me solta! - Medusa gritou - Aceita que você é tão sem graça e chata que para alguém casar com você o dote teve que ser muito alto! - provocou.

- Vou acabar com você! - Esteno ficou descontrolada.

Os convidados ficaram assustados com aquela cena ridícula de duas irmãs em pé de guerra. Nosso pai, Fórcis e um empregado tentavam segurar as duas que estavam totalmente fora de si. Medusa já havia jogado comida na Esteno, que estava tão consumida pela raiva que não percebeu que seu vestido de noiva estava sujo.

- Parem de brigar, agora! - berrou nosso pai Fórcis e no mesmo instante as duas pararam de brigar. - Vamos acalmar os ânimos como pessoas civilizadas.

Todos ficaram em silêncio. Euríale e Dário se reprimiram envergonhados.

- É verdade isso que a sua irmã disse, Euríale? - perguntou Fórcis, meu pai.

- É verdade. - confirmou de cabeça abaixada.

- Meu Deus, que vergonha! - lamentou meu pai, Fórcis.

Esteno estava esgotada e com a maquiagem borrada, mas ela queria continuar despejando todo o seu ódio em alguém. Ela passou os olhos em Euriale e o seu ódio cresceu mais ainda.

- Sua falsa! - Esteno se exaltou para cima de Euríale - Vou te dar o que você merece! - disse dando um tapa bem forte em seu rosto, fazendo Euríale ir ao chão colocando a mão no local atingido.

- Não faz isso com ela! - gritei - Ela não tem culpa, o único culpado aqui é esse canalha! - apontei para Dário enfurecidamente que olhou para mim com um olhar acanhado. - Era ele que estava noivo com você, ele devia ter a responsabilidade ou pelo menos consideração com nosso pai por estar em nossa casa.

- Filho, explique-se! - O governador pediu satisfação.

- Eu e a Euríale nos apaixonamos. Era com ela que eu queria me casar, quando o senhor me disse que me casaria com uma das górgonas, achei que o senhor falava da Euríale, pois a gente se ama. E eu só aceitei esse casamento porque ela me pediu para que a gente pelo menos pudesse ficar juntos sobre o mesmo teto mesmo não estando casados. Pelo menos não teríamos que esperar as duas filhas do senhor Fórcis estarem casadas para que finalmente a gente se casar. - Ele desabafou se sentindo mal pela situação com o olhar meio perdido. - Me perdoe senhor Fórcis e senhora Ceto, não foi a minha intenção decepcioná-los. Com licença!

Dário se retirou da mesa e foi embora sendo seguido pela sua nobre família, arrastando a cara no chão de tanta vergonha e constrangimento. Confesso que fiquei com um pouco de pena dele. Talvez eles de fato queriam ficar juntos, mas as tradições e leis daquele lugar os impediram de assumir o romance.

- Me perdoe pelo meu filho, Fórcis. - disse o governador antes de ir embora.

Os meus pais mitológicos e Esteno estavam desolados e envergonhados. Os convidados estavam totalmente sem graça com toda a situação, restando apenas irem embora, pois o clima estava pesado demais para continuar ali. Meu pai Fórcis ficou pensativo. Ele se sentiu traído na própria casa. Desonraram uma de suas filhas e humilharam a outra. Mal sabiam eles que se duvidar nenhuma das górgonas era mais virgem, pelo menos só eu era, eu acho. Não sei se eu tinha no mundo mitológico a mesma personalidade e princípios que tinha no meu mundo real. Não dá para saber como era a Adazar antes de me encarnar em seu corpo. São dúvidas que talvez sejam tiradas depois.

Euríale estava chorando, completamente angustiada e deprimida, coitada. Aquela cena era de cortar o coração, fiquei com muita pena dela.

- Não chore! Você não ficará mais nesse castelo, irá para um internato, só retornará sob as minhas ordens! - Meu pai, intimou Euríale, sem olhar nos olhos dela.

Ele ordenou aos guardas que preparassem a carruagem para a comitiva da partida de Euríale.

- Não, pai, por favor! - ela implorou agarrando-se aos pés do nosso pai.

- Cala a boca! - ele berrou fortemente - Você vai e não se fala mais nisso! - encerrou puxando bruscamente o seu pé de volta.

Me levantei indignada, puxando Medusa para um canto.

- Eu não acredito que você traiu a minha confiança! - disse eu, revoltada.

- Eu tentei me segurar, mas foi mais forte do que eu e no final até que foi divertido. - ela levou na brincadeira.

- Divertido? Você acabou com o banquete! - me exaltei.

- Ela começou, você viu! - ela disse alterando o tom de voz.

Meu pai se levantou da mesa e veio em nossa direção, pesando ainda mais o clima horripilante no ar. Ele olhou para Medusa com uma expressão nada amigável, os seus olhos ficaram petrificados, fixos, olhando exclusivamente para ela, mostrando estar nitidamente triste e aborrecido com toda aquela crise patética causada por Medusa devido ao seu ego está ferido.

- Você está bem, papai? - ela perguntou preocupada com o seu péssimo estado.

- Arruma as suas coisas, você vai agora mesmo para o templo de Atena! - intimou.

            
            

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