Capítulo 4 O início de uma nova vida

Capítulo 4 – O Início de uma Nova Vida:

O que aconteceu nos dias seguintes ao telefonema de Miguel foi um turbilhão de emoções para Beatriz. Ela se viu dividida entre o desejo de melhorar a vida dela e o medo de que aceitar a proposta significasse abrir mão da sua dignidade. Nunca na vida ela pensou que chegaria a um ponto de precisar fazer uma escolha como aquela. Mas, ao olhar para sua mãe, adormecida na cama, e pensar no sofrimento diário de viver sem recursos, ela se convenceu de que a proposta de Miguel poderia ser a chance que tanto precisava para mudar tudo. Na manhã seguinte, ela acordou com o peso da decisão ainda no peito. Miguel havia lhe dito que se encontrariam no final da tarde, e ela sabia que naquele momento sua vida estava prestes a mudar, para o bem ou para o mal. Ela fez o café da manhã para sua mãe, como sempre fazia, e tentou manter a rotina o mais normal possível. No entanto, uma ansiedade crescente a consumia, e suas mãos tremiam ligeiramente ao colocar a xícara de café sobre a mesa. Dona Celeste, sua mãe, percebeu a tensão. Com seu olhar preocupado, ela observou a filha enquanto ela tentava disfarçar a inquietação. - O que aconteceu, minha filha? Você está tão... diferente hoje - disse Dona Celeste, com a voz fraca, mas atenta. Beatriz sorriu, tentando passar uma sensação de normalidade. - Não é nada, mãe. Só estou um pouco cansada, é tudo. Vai passar - ela respondeu, com a voz suave, tentando esconder a tempestade dentro de si. Dona Celeste não parecia completamente convencida, mas Beatriz não queria preocupar a mãe. Ela sabia que, no fundo, a mãe sempre a apoiaria, mas também sabia que Dona Celeste não teria a capacidade de entender completamente o que estava prestes a fazer. Com um último olhar para a mãe, Beatriz se levantou e se preparou para sair. Ela se arrumou com mais cuidado do que o habitual, escolhendo um vestido simples, mas que a fizesse parecer mais arrumada do que ela se sentia. O espelho refletia uma Beatriz um pouco diferente da mulher de sempre - um pouco mais decidida, um pouco mais hesitante. Mas ainda era a mesma mulher que lutava todos os dias para garantir que sua mãe tivesse o mínimo necessário. Ainda era a mulher que, apesar de tudo, tinha um sonho secreto de uma vida melhor. Quando ela chegou ao ponto de encontro, o luxuoso restaurante onde Miguel a havia convidado para o encontro, seu coração estava batendo acelerado. Era o tipo de lugar onde pessoas como ela nunca imaginavam estar, muito menos frequentar. O valet, com seu uniforme impecável, abriu a porta para ela e a conduziu até o interior do restaurante. Beatriz se sentiu fora de lugar, como se estivesse vivendo um sonho, mas ao mesmo tempo, a sensação de que não havia mais volta a acossava seus pensamentos. Miguel já estava à mesa quando Beatriz chegou. Ele estava elegante, como sempre, e parecia à vontade, como se estivesse esperando por ela com uma calma que contrastava com a ansiedade que ela sentia. Ele se levantou imediatamente ao vê-la, com um sorriso cordial. - Beatriz! Que bom te ver. Você está incrível - disse ele, sua voz suave e encantadora, como se a estivesse elogiando de forma genuína. Ela sorriu, tentando esconder a timidez. Ela não estava acostumada a ser elogiada assim, mas a presença dele a fazia sentir-se especial, ainda que um pouco desconfortável. - Obrigada, Miguel - respondeu ela, sentando-se à mesa com ele. O garçom trouxe o cardápio e deixou-os a sós. Miguel fez questão de ser atencioso, perguntando como ela estava, como andavam as coisas em sua vida e, em especial, como sua mãe estava se sentindo. Beatriz respondeu com um sorriso forçado, sentindo-se cada vez mais presa entre o desejo de ser grata pela oportunidade e a sensação de estar se entregando a algo desconhecido. Enquanto a refeição seguia, Miguel parecia mais interessado nela do que em qualquer outra coisa ao redor. Ele não falava sobre negócios, não fazia perguntas invasivas. Ele se limitava a ouvi-la, como se estivesse realmente tentando conhecê-la. Beatriz, por sua vez, respondia de maneira cautelosa, percebendo que estava sendo observada de uma forma que nunca havia experimentado. Cada palavra que ela dizia parecia ser registrada com atenção, como se ele estivesse tirando alguma lição de sua história. Após o jantar, Miguel a conduziu até o carro, e durante o trajeto de volta, a conversa tomou um rumo mais sério. Ele falou com mais franqueza sobre o que ele realmente queria. Beatriz sabia que o momento de tomar uma decisão estava chegando. - Beatriz, eu sei que essa proposta pode parecer estranha, até desconfortável. Eu não quero que você sinta que está sendo forçada a nada. Mas eu preciso ser honesto com você - ele disse, sua voz mais baixa, quase como se quisesse que ela sentisse a sinceridade nas suas palavras. - O que eu estou oferecendo é uma oportunidade. Eu sei que a vida tem sido difícil para você, e vejo que você tem um grande coração. Não estou te pedindo para mudar quem você é, ou fazer algo que vá contra seus princípios. Apenas me permita ajudar, em uma troca mútua. Beatriz olhou para fora da janela do carro, tentando processar o que ele estava dizendo. A voz dele tinha um tom quase convincente demais, e ela sabia que uma decisão precisava ser tomada logo. Ela poderia recusar e continuar com sua vida como estava, mas ela também sabia que isso significava mais um dia de sofrimento para sua mãe e para ela. Ao mesmo tempo, aceitar a proposta de Miguel significaria entrar em um mundo que ela não conhecia, um mundo de luxo, mas também um mundo que poderia vir com seus próprios desafios e exigências. Quando chegaram à porta de sua casa, Miguel a olhou com uma intensidade silenciosa, aguardando uma resposta. - Beatriz, eu entendo se precisar de tempo para pensar. Não quero que tome nenhuma decisão apressada, mas quero que saiba que a porta está sempre aberta - ele disse, antes de sair do carro. Beatriz respirou fundo, olhando para a casa simples onde morava. A casa que ela e sua mãe chamavam de lar, mas que agora parecia tão distante, tão pequena diante da vida que Miguel lhe oferecia. Ela se sentia perdida, mas ao mesmo tempo, algo dentro dela começava a se acender. O medo do desconhecido ainda estava lá, mas também estava o desejo de mudar sua vida. - Eu... vou pensar sobre o que você disse, Miguel - respondeu Beatriz, finalmente. Miguel sorriu, como se soubesse que aquela era a resposta que ele esperava. - Claro. Eu estarei por aqui quando você estiver pronta - ele disse, e a deixou à porta da casa. Beatriz ficou em pé, observando o carro de luxo se afastar na rua silenciosa. Ela entrou na casa e, ao olhar para sua mãe, se sentiu ainda mais dividida. Sua vida estava em uma encruzilhada, e ela sabia que não poderia continuar ignorando a oportunidade que se abria diante dela. Naquela noite, ela se deitou com um misto de esperanças e incertezas. Mas algo em seu coração lhe dizia que, independentemente da escolha, ela não seria mais a mesma mulher que acordara naquela manhã.

            
            

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